quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Saramago...que falta faz a nós, eternos cegos ensaiados...

                   
“Escrever é traduzir. Sempre o será. Mesmo quando estivermos a utilizar a nossa própria língua. Transportamos o que vemos e o que sentimos (supondo que o ver e o sentir, como em geral os entendemos, sejam algo mais que as palavras com o que nos vem sendo relativamente possível expressar o visto e o sentido…) para um código convencional de signos, a escrita, e deixamos às circunstâncias e aos acasos da comunicação a responsabilidade de fazer chegar à inteligência do leitor, não a integridade da experiência que nos propusemos transmitir (inevitavelmente parcelar em relação à realidade de que se havia alimentado), mas ao menos uma sombra do que no fundo do nosso espírito sabemos ser intraduzível, por exemplo, a emoção pura de um encontro, o deslumbramento de uma descoberta, esse instante fugaz de silêncio anterior à palavra que vai ficar na memória como o resto de um sonho que o tempo não apagará por completo.” (In: Cadernos de Saramago)

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Pauliceia desvairada...parabéns!

Minha insólita metrópole, capital de todos os absurdos! Música eletrônica em fundo de serenata, paisagem cubista com incrustações primitivas, poema concreto envolto em trovas caboclas. Cidade feita de cidades, bairros proclamando independência, ruas falando dialetos, homens com urgência de viver.
Oceano feito de ilhas. Ilhas chegando, ilhas sangrando, ilhas florindo. Os céus cansados do concreto que arranha. Cresce o mar das periferias. No barco dos barracos navega um sonho. No fundo de cada um dos cidadãos do mundo, dorme a província.
Ali a velha igreja com seu campanário esperando a mantilha da noite.  Anúncios luminosos piscam obsessões. O asfalto é irmandade de credos.
No Centro, todos os vícios e todas as virtudes convivem nas esquinas da São João.
Os domingos são quadrados. Cabem dentro da tela de cinema, do aparelho de televisão, da página do jornal, do campo de futebol.
O metrô é mergulho no inconsciente urbano. Nele o mesmo silêncio dos elevadores. Convívio de sonâmbulos, de antípodas da fila de ônibus e do trem de subúrbio onde há tempo para o cansaço florir num sorriso.
Aqui o verde é esperança cobrindo o frio de existir.
Teatros e o ballet da multidão, museus contemplando o quadro dos que se agitam, orquestras e a sinfonia de uma época em marcha. Nestes tempos modernos, Carlito operário ou estudante, comerciário ou burocrata, é técnico em sobreviver.
Planalto dos desencontros, porto dos aflitos, rosa de eventos onde até o futuro tem pressa de chegar.
Mal-amada cidade de São Paulo, EU TE AMO!
                                (Poema de Paulo Bonfim)

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Ser professor...

"Eu tenho uma espécie de dever, de dever de sonhar
de sonhar sempre,
pois sendo mais do que
uma expectadora de mim mesma.
Eu tenho que ter o melhor espetáculo que posso.
E assim me construo a ouro e sedas,
em salas supostas, invento palco,
cenário para viver o meu sonho
entre luzes brandas
e músicas invisíveis. "
(Livro do Desassossego, Fernando Pessoa)